Bem-vindo/a ao blog da coleção de Ler o mundo História referência no ensino da diversidade

Bem-vindos, professores!
Este é o nosso espaço para promover o diálogo entre a autora da coleção LER O MUNDO HISTÓRIA, editora SCIPIONE e os professores que apostam no nosso trabalho.
É também um espaço reservado para a expressão dos professores que desejam publicizar suas produções e projetos desenvolvidos em sala de aula.
Clique aqui, conheça nossos objetivos e saiba como contribuir.

domingo, 5 de julho de 2009

"Criança, a alma do negócio" um documentário sobre infância e consumismo

Produtora: Maria Farinha Produções
Direção: Estela Renner
Produção Executiva: Marcos Nisti

Um documentário sobre publicidade, consumo e infância.
(Este documentário está divido em 6 partes ao final deste texto.)

Sinopse: “Por que meu filho sempre me pede um brinquedo novo? Por que minha filha quer mais uma boneca se ela já tem uma caixa cheia de bonecas? Por que meu filho acha que precisa de mais um tênis? Por que eu comprei maquiagem para minha filha se ela só tem cinco anos? Por que meu filho sofre tanto se ele não tem o último modelo de um celular? Por que eu não consigo dizer não? Ele pede, eu compro e mesmo assim meu filho sempre quer mais. De onde vem este desejo constante de consumo?” Este documentário reflete sobre estas questões e mostra como no Brasil a criança se tornou a alma do negócio para a publicidade. A indústria descobriu que é mais fácil convencer uma criança do que um adulto, então, as crianças são bombardeadas por propagandas que estimulam o consumo e que falam diretamente com elas. O resultado disso é devastador: crianças que, aos cinco anos, já vão à escola totalmente maquiadas e deixaram de brincar de correr por causa de seus saltos altos; que sabem as marcas de todos os celulares mas não sabem o que é uma minhoca; que reconhecem as marcas de todos os salgadinhos mas não sabem os nomes de frutas e legumes. Num jogo desigual e desumano, os anunciantes ficam com o lucro enquanto as crianças arcam com o prejuízo de sua infância encurtada. Contundente, ousado e real, este documentário escancara a perplexidade deste cenário, convidando você a refletir sobre seu papel dentro dele e sobre o futuro da infância.

Instituto Alana

Vídeos do 2° Fórum Internacional Criança e Consumo realizado em 2008

Baixe este documentário em alta qualidade de imagem:
http://rapidshare.com/files/183833729…
http://rapidshare.com/files/183879717…
http://rapidshare.com/files/183952730…



Parte 1


Parte 2


Parte 3


Parte 4


Parte 5


Parte 6

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Conheça escolas que já incorporaram o blog como ferramenta no seu dia a dia

Fonte: Acessa São Paulo


Na EE D. Pedro I, de São Miguel Paulista, bairro da Zona Leste de São Paulo, a professora Márcia Regina, de Química, e as alunas do Ensino Médio Aline Suelen Coki da Silva, Camila Karolina de Freitas e Flávia Pinheiro resolveram discutir com a comunidade intra e extra-escolar a importância da proteção do meio ambiente para que se possa legar às gerações futuras uma vida saudável.

No outro canto da cidade, no Jardim Olinda, Zona Sul, Leandro Santos, professor de Biologia da EE Prof Flávio Negrini, fala com seus alunos sobre a visita que farão à Estação Ciência e traz detalhes sobre o local, valendo-se, inclusive, de dois vídeos que facilitam a compreensão das informações por ele transmitidas.

Enquanto isso, em Indaiatuba, no interior de São Paulo, a professora Vera Lucia Ivanov, coordenadora da EE Profª Áurea Moreira da Costa, desenvolve com seus alunos uma série de projetos que são registrados através de textos, fotos, apresentações e avaliações.

O que essas atividades têm em comum é que tanto a professora e suas alunas da Zona Leste, como o professor da Zona Sul de São Paulo e a professora de Indaiatuba estão usando a mesma ferramenta para o desenvolvimento de seus trabalhos e projetos: o blog.

Eles fazem parte de um grupo cada vez maior de pessoas que se valem das facilidades que esse meio de comunicação oferece para fazer chegar o seu recado a um grande número de pessoas, com rapidez e eficiência.

Como sabemos, o blog é um diário online, no qual você publica textos, vídeos, arquivos de som ou imagens. O blog permite a interação do leitor com o autor (chamado blogueiro) através de uma área reservada para comentários e opiniões. Essa característica, aliás, é que define o blog como uma importante mídia social, capaz de promover a formação de redes de pessoas que compartilham o mesmo interesse na internet.

Por isso, é fácil compreendermos porque um número cada vez maior de educadores e estudantes se valem do blog para o desenvolvimento de suas atividades. O professor deixa de ser aquele que tem “a palavra quase que única” do contexto da sala de aula tradicional e torna-se o orientador, aquele que indica caminhos e facilita tanto a pesquisa quanto a troca entre seus alunos – uma performance mais alinhada ao contexto da rede social.

Relacionamos, a seguir, os links de alguns blogs de escolas e professores da Rede Estadual de Ensino de São Paulo que possuem blogs ativos. Visite e deixe seu recado!

Blog da EE Dom Pedro I, São Paulo, SP
EE Dom Pedro I

Blog do Prof. Leandro, SP
Professor Leandro

Negrini On-Line
Negrini

Projetos da E.E.Profª Áurea Moreira da Costa, Indaiatuba, SP
Projetos Indaiatuba

E.E Camilo M. Paula, Indaiatuba, SP
EE Camilo M. Paula

E.E. Profº Antônio Sproesser, Monte Mor, SP
EE Antônio Sproesser

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Pesquisas registram a desigualdade racial nos sistemas de ensino

Caros professores, fiquem atentos ao lançamento do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e Ensino da Cultura e História Afro-Brasileira e Africana.

Os estados e municípios que aderirem ao programa receberão verbas para a sua implementação. Não se trata de criar disciplinas específicas sobre o tema étnico-racial nas escolas. A temática terá de ser incorporada por meio de livros didáticos e paradidáticos utilizados nas aulas de história e geografia, por exemplo, desde a educação infantil até o ensino médio.

Neste sentido, a coleção LER O MUNDO- HISTÓRIA, editora Scipione, considerada uma obra de referência para o ensino da História africana, afro-brasileira e dos povos indígenas torna-se uma excelente escolha.

Abaixo reproduzo duas notícias a respeito da necessidade da criação deste plano, assim como uma notícia de como ele funcionará para os estados e municípios.


Pesquisas registram a desigualdade racial nos sistemas de ensino


De acordo com a última a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2007, 49,4% da população brasileira se autodeclarou da cor ou raça branca, 7,4% preta, 42,3% parda e 0,8% de outra cor ou raça. A população negra é formada pelos que se reconhecem pretos e pardos. Esta multiplicidade de identidades nem sempre encontra, no âmbito da educação, sua proporcionalidade garantida nas salas de aula de todos os níveis e modalidades.

O Brasil conta com mais de 53 milhões de estudantes em seus diversos sistemas, níveis e modalidades de ensino. Mas o atendimento às populações branca e negra revelam desigualdades. De acordo com a Pnad 2006, na educação infantil apenas 13,8% das crianças declaradas como negras estavam matriculadas em creches. O número sobe para 17,6% na população branca. Na pré-escola a desigualdade persiste, embora seja menor, 65,3% das crianças brancas matriculadas, enquanto 60,6% da população infantil negra frequentava a escola.

Segundo o Censo Escolar de 2007, a distorção idade-série de brancos é de 33,1% na 1ª série do ensino fundamental e de 54,7% na 8ª, enquanto a distorção idade-série de negros é de 52,3% na 1ª série e de 78,7% na 8ª série. Entre os jovens brancos de 16 anos, 70% haviam concluído o ensino fundamental obrigatório. Na população negra dessa faixa etária, apenas 30% alcançaram essa escolaridade. Entre as crianças brancas de 8 e 9 anos na escola, a taxa de analfabetismo é da ordem de 8%. Para essa mesma faixa etária das crianças negras o índice é o dobro.

Ensinos médio e superior – No ensino médio o quadro não é diferente. Ainda com base na Pnad 2007, 62% dos jovens brancos de 15 a 17 anos frequentavam a escola; na população negra o índice cai pela metade. Se o recorte etário for para 19 anos, os brancos apresentam uma taxa de conclusão do ensino médio de 55%, enquanto os negros, uma taxa de apenas 33%.

As desigualdades persistem no ensino superior. A Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que 12,6% da população branca acima de 25 anos concluiu o curso superior. Dentre os negros, a taxa é de 3,9%. Em 2007, os dados coletados pelo censo do ensino superior indicavam a frequência de 19,9% de jovens brancos entre 18 e 24 anos no ensino superior. Já para os negros o percentual é de somente 7%.

Plano nacionalPara reverter esse quadro, o governo federal lança, nesta quarta-feira, 13, o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e Ensino da Cultura e História Afro-Brasileira e Africana. O objetivo é reduzir desigualdades na educação, tornar a escola um ambiente mais acolhedor, sem reproduzir preconceitos e valorizar a cultura e história do povo negro na formação da sociedade brasileira.

A iniciativa é do Ministério da Educação, em parceria com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O lançamento será realizado na solenidade Ações Afirmativas no Brasil, em Brasília. Também serão apresentados projetos dos ministérios da Ciência e Tecnologia e do Trabalho e Emprego, em parceria com a Seppir.

Assessoria de Imprensa da Secad

*********
Governo financiará aula de cultura africana

Estados e municípios que incluírem história afro-brasileira no currículo escolar terão recurso extra do governo federal

Será lançado um plano para implementação de uma lei de 2003, que obriga estudo da participação dos negros na formação da sociedade


EDUARDO SCOLESE
ANGELA PINHO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal dará recursos extras a Estados e municípios que se comprometerem a incluir no currículo escolar o tema da cultura e da história afro-brasileira.

O compromisso virá pela adesão ao plano de implementação de uma lei de 2003, a 10.639, que torna obrigatório nas redes de ensino o estudo da história africana e da participação dos negros na formação da sociedade brasileira.

Editais para o financiamento de cursos de formação e treinamento de professores nessa área, por exemplo, serão abertos apenas aos prefeitos e governadores que assinarem o plano federal.

Esse plano de implementação nada mais é do que uma reação do governo à falta de interesse de prefeitos e governadores a cumprirem por vontade própria a lei de 2003. Justamente por isso virá acompanhado de atrativos.

Além de dinheiro, alguns setores do governo defendem que seja oferecido um bônus na pontuação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que considera a Prova Brasil e dados de aprovação de alunos) àqueles que confirmarem a adesão.

O Ideb possui um forte apelo político, sendo usado em campanhas eleitorais tanto como um instrumento de ataque como de propaganda, o que, na visão do governo, seria uma isca para a adesão. Esse ponto, porém, ainda está em discussão.

Responsável pela área no Ministério da Educação, o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, André Lázaro, não quis se manifestar sobre o bônus porque o plano ainda não foi finalizado.

Em entrevista anterior, ele afirmou que é preciso ampliar a implementação da lei, já que sua aplicação vem ocorrendo de forma bastante heterogênea, e, segundo ele, aparentemente pior na rede privada do que na pública.

A adesão não será obrigatória. O plano será lançado neste mês, numa parceria do Ministério da Educação e da Secretaria da Igualdade Racial da Presidência. Uma ideia é anunciá-lo em 13 de maio, dia no qual é comemorada a abolição da escravatura no Brasil.

Ao aderir ao plano, Estados e municípios não serão obrigados a criar disciplinas específicas sobre o tema étnico-racial nas escolas. A temática terá de ser incorporada em livros didáticos e paradidáticos e nas aulas de história e geografia, por exemplo, desde a educação infantil até o ensino médio.

Já a formação dos professores será modificada. Nos cursos de graduação de pedagogia, será incentivada a criação de disciplinas sobre diversidade étnico-racial. "A nossa avaliação é que as universidades ainda não incorporaram de maneira decidida esses conteúdos na formação de professores", diz Lázaro.

Os já formados terão de passar por cursos de capacitação. Isso já ocorreu com 30% dos diretores de escola e 25% dos docentes de escolas públicas, segundo pesquisa encomendada pelo Ministério da Educação.

"O plano é importante para que todos os alunos tenham a compreensão da real contribuição africana nas suas vidas", afirma Martvs da Chagas, subsecretário de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria da Igualdade Racial.

A temática passará ainda a ser uma exigência obrigatória nos editais de livros do Ministério da Educação.


domingo, 24 de maio de 2009

Jogos africanos

Nestas duas últimas semanas viajei divulgando a coleção Ler o Mundo História. Durante a minha palestra sobre a implementação da 10639/03 e 11.645/08 ministrada em Peruíbe, em 15 de junho de 2009, encontrei o professor Eduardo Carvalho e conversamos sobre o nosso interesse comum: a formação de professores para que a 10639/03 e 11.645/08 tornem-se de fato práticas escolares, sobre a rede como uma excelente ferramenta para o diálogo entre os professores.

Foi com alegria que recebi o mail carinhoso do professor Eduardo Carvalho que atualmente é coordenador das áreas de História, Geografia e Arte da rede municipal de Itanhaém/SP. Ele me passou o endereço de seu belo blog: Educação Itanhaém. É de lá que extraí a dica de jogos que publico a seguir.

Jogos africanos - Yoté

O Yoté é o primeiro de uma série de jogos africanos que publicarei, aos poucos, em posts deste blog. A seguir, informações sobre o jogo e suas regras. Dicas sobre como aplicá-lo em sala de aula podem ser encontradas na postagem Jogos Africanos.

YOTÉ

Este jogo, muito popular em toda a região oeste da África (particularmente no Senegal), é uma das melhores escolhas para a introdução do educando à cultura africana e, ao mesmo tempo, convidá-lo a desenvolver seu raciocínio e sentido de observação.
Em alguns países africanos, os jogos de estratégia, como o Yoté, estão muito ligados às tradições. As táticas de jogo são verdadeiros segredos de família, passados de geração em geração; as crianças são iniciadas ao conhecimento do jogo quando estas se mostram aptas ao raciocínio estratégico. Entre alguns povos, este jogo é reservado exclusivamente aos homens, e às vezes, é usado para resolver conflitos entre eles. Outro motivo que faz o Yoté popular, principalmente no Senegal, é o fato de que os jogadores e os espectadores fazem apostas baseadas neste jogo.
Em muitos grupos infantis, as crianças costumam traçar o tabuleiro na areia, utilizando como peças pequenos cocos, sementes, pedras ou qualquer outro recurso facilmente conseguido.
Classificado entre “os melhores jogos da infância” pelo Comitê Internacional da UNICEF, este jogo desenvolve muito a sagacidade e o sentido de observação. Com uma estrutura e regras totalmente baseados em estratégia, o Yoté incentiva o educando ao raciocínio, desde o posicionamento da primeira peça até a percepção de que se ganhou ou perdeu a partida. Vale ainda destacar a semelhança das regras do Yoté com o jogo de Damas, muito popular entre os brasileiros.

Regras do Yoté
  • É um jogo de confronto estratégico para 2 jogadores.
  • Usa-se um tabuleiro de 30 casas com 24 peças, 12 de cada cor ou tonalidade.

Objetivo: Capturar ou bloquear todas as peças do adversário.

Início da partida

  • Cada jogador escolhe uma cor e coloca sua reserva de peças fora do tabuleiro.
  • Os jogadores determinam quem começa.
  • Cada jogador, na sua vez, pode colocar uma peça em uma casa vazia da sua escolha, ou mover uma peça já colocada no tabuleiro.

Movimentos: As peças se movimentam de uma casa em direção a uma casa vazia ao lado, no sentido horizontal ou vertical, mas nunca na diagonal.

Captura

  • A captura ocorre quando uma peça pula por cima da peça do adversário, como no jogo de Damas. A peça que captura deve sair da casa adjacente à peça capturada e chegar, em linha reta, na outra casa adjacente que deve se encontrar vazia.
  • Além de retirar a peça capturada, o jogador retira mais uma peça do adversário de sua livre escolha. Assim, para cada captura, o jogador exclui um total de duas peças do adversário.
  • A captura não é obrigatória.
  • Caso um jogador sofra captura de uma peça e não possua outras sobre o tabuleiro, seu adversário não poderá reivindicar a outra peça a qual teria direito.

Captura múltipla

  • Um jogador pode capturar várias peças do adversário com a mesma peça, até que não haja mais condições de pular.
  • Durante a captura múltipla é obrigatório, depois de cada captura, retirar a segunda peça antes de prosseguir com outras capturas.
  • É permitido retirar uma peça que lhe dê condição de continuar capturando outras peças.

Final do jogo

  • O jogo termina quando um dos jogadores ficar sem peças ou com as peças bloqueadas.
  • Quando os jogadores concordam que não há mais nenhuma captura possível, vence aquele que capturou mais peças.
  • Se ambos os jogadores ficarem com 3 ou menos peças no tabuleiro, e não seja mais possível efetuar capturas, o jogo termina empatado.

Algumas informações e ilustrações foram retiradas do site da empresa Ludens Spirit. Faça aqui o download das regras ilustradas deste jogo em formato PDF.

A postagem abaixo contém dicas sobre como aplicar este e outros jogos africanos em sala de aula.


http://edu-cacao.blogspot.com/

sábado, 16 de maio de 2009

Filmes e Pareceres pedagógicos para e sobre o universo infantil

Há cerca de um ano produzi uma série de pareceres pedagógicos para alguns filmes e documentários do Porta Curtas.

Assista os filmes e acesse os pareceres para obter sugestões de como fazer um bom uso didático deles em sala de aula:

A velha a fiar- clique aqui para acessar o parecer pedagógico








Metamorfose-
clique aqui para acessar o parecer pedagógico






A Invenção da Infância
- clique aqui para acessar o parecer pedagógico





Pequenos tormentos da vida- clique aqui para acessar o parecer pedagógico

segunda-feira, 2 de março de 2009

Ler o Mundo

(Affonso Romano de Sant'Anna)

Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não.

Depende de quem lê.

Penso nisto nesta semana em que a cidade experimenta uma vez mais, e melhorado, o "Paixão de Ler", que Vânia Bonelli e Vera Mangas administram.

Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não. Ou não, porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente. Ainda agora os jornais estão repetindo, a propósito das recentes eleições, "que é preciso entender o recado das urnas". Ou seja: as urnas falam, emitem mensagens. O sambista dizia que "as rosas não falam, as rosas apenas exalam o perfume que roubam de ti". Perfumes falam. E as urnas exalaram um cheiro estranho. O presidente diz que seu partido precisa tomar banho de "cheiro de povo". E enquanto repousava nesses feriados e tomava banho em nossas águas, ele tirou várias fotos com cheiro de povo.

Paixão de ler. Ler a paixão.

Como ler a paixão se a paixão é quem nos lê? Sim, a paixão é quando nossos inconscientes pergaminhos sofrem um desletrado terremoto. Na paixão somos lidos à nossa revelia .

O corpo é um texto. Há que saber interpretá-lo. Alguns corpos, no entanto, vêm em forma de hieróglifos, dificílimos. Ou, a incompetência é nossa, iletrados diante dele?

Quantas são as letras do alfabeto do corpo amado? Como soletrá-lo? Como sabê-lo na ponta da língua? Tem 24 letras? Quantas letras estranhas, estrangeiras nesse corpo? Como achar o ponto G na cartilha de um corpo? Quantas novas letras podem ser incorporadas nesta interminável e amorosa alfabetização? Movido pelo amor, pela paixão pode o corpo falar idiomas que antes desconhecia.

O médico até que se parece com o amante. Ele também lê o corpo. Vem daí a semiologia. Ciência da leitura dos sinais. Dos sintomas. Daí partiu Freud, para ler o interior, o invisível texto estampado no inconsciente. Então, os lacanianos todos se deliciaram jogando com as letras - a letra do corpo, o corpo da letra.

Portanto, não é só quem lê um livro, que lê.

Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada. Fazer um jardim é reler o mundo, reordenar o texto natural. A paisagem pode ter sotaque. Por isto se fala de um jardim italiano, de um jardim francês, de um jardim inglês. E quando os jardineiros barrocos instalavam assombrosas grutas e jorros d'água entre seus canteiros estavam saudando as elipses do mistério nos extremos que são a pedra e a água, o movimento e a eternidade.

O urbanista e o arquiteto igualmente escrevem, melhor dito, inscrevem, um texto na prancheta da realidade. Traçados de avenidas podem ser absolutistas, militaristas, e o risco das ruas pode ser democrático dando expressividade às comunidades.

Tudo é texto. Tudo é narração.

Um desfile de carnaval, por exemplo. Por isto se fala de "samba enredo". Enredo além da história pátria referida. A disposição das alas, as fantasias, a bateria, a comissão de frente são formas narrativas.

Uma partida de futebol é uma forma narrativa. Saber ler uma partida - este o mérito do locutor esportivo, na verdade, um leitor esportivo. Ele, como o técnico, vê coisas no texto em jogo, que só depois de lidas por ele, por nós são percebidas. Ler, então, é um jogo. Uma disputa, uma conquista de significados entre o texto e o leitor.

Paulinho da Viola dizia: "As coisas estão no mundo eu é que preciso aprender". Um arqueólogo lê nas ruínas a história antiga. O astrônomo lê a epopéia das estrelas. Ora, direis, ouvir & ler estrelas. Que estórias sublimes, suculentas, na Via Láctea.

Não é só Scheherazade que conta estórias. Um espetáculo de dança é narração. Uma exposição de artes plásticas é narração. Tudo é narração. Até o quadro "Branco sobre o branco" de Malevich conta uma estória.

Aparentemente ler jornal é coisa simples. Não é. A forma como o jornal é feita, a diagramação, a escolha dos títulos, das fotos e ilustrações são já um discurso. E sobre isto se poderia aplicar o que Umberto Eco disse sobre o "Finnegans Wake" de James Joyce: "o primeiro discurso que uma obra faz o faz através da forma como é feita".

Estamos com vários problemas de leitura hoje. Construímos sofisticadíssimos aparelhos que sabem ler. Eles nos lêem. Nos lêem melhor que nós mesmos. E mais: nós é que não os sabemos ler. Isto se dá não apenas com os objetos eletrônicos em casa ou com os aparelhos capazes de dizer há quantos milhões de anos viveu certa bactéria. Situação paradoxal: não sabemos ler os aparelhos que nos lêem. Analfabetismo tecnológico.

A gente vive falando mal do analfabeto. Mas o analfabeto também lê o mundo. Às vezes, sabiamente. Em nossa arrogância o desclassificamos. Mas Levi-Strauss ousou dizer que algumas sociedades iletradas eram ética e esteticamente muito sofisticadas. E penso que analfabeto é apenas aquele que a sociedade letrada refugou. De resto, hoje na sociedade eletrônica, quem não é de algum modo analfabeto?

Vi na fazenda de um amigo aparelhos eletrônicos, que ao tirarem leite da vaca, são capazes de ler tudo sobre a qualidade do leite, da vaca, e até o pensamento de quem está assistindo a cena. Aparelhos sofisticadíssimos lêem o mundo e nos dão recados. A camada de ozônio está berrando um S.O.S , mas os chefes de governo, acovardados, tapam (economicamente) o ouvido. A natureza está dizendo que a água além de infecta, está acabando. Lemos a notícia e postergamos a tragédia para nossos netos.

É preciso ler, interpretar e fazer alguma coisa com a interpretação. Feiticeiros e profetas liam mensagens nas vísceras dos animais sacrificados e paredes dos palácios. Cartomantes lêem no baralho, copo d'água, búzios. Tudo é leitura. Tudo é decifração.

Ler é uma forma de escrever com mão alheia.

Minha vida daria um romance? Daria, se bem contado. Mas bem escrevê-lo são artes da narração. Mas só escreve bem, quem ao escrever sobre si mesmo, lê o mundo também.

************************

LEITURA DO CRIME: disse o general Cardoso: "Crime está mais organizado que nós". A frase é verdadeira, mas com o enfoque invertido. A desorganização social e econômica é que organiza o crime.